O POETA DO MARACUJÁ

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O fluminense Luiz Nicolau Fagundes Varela, que nasceu em 17 de agosto de 1841 em Rio Claro (RJ) e faleceu em 18 de fevereiro de 1875, nos deixou de legado uma obra poética importante, entre as quais o principal poema dedicado à flor do maracujá, esse fruto genuinamente brasileiro que brota sorrateiramente em cercas e alambrados e que encontrou no cerrado o bioma ideal para frutificar. O poema de Fagundes Varela, como tornou-se conhecido e respeitado, vindo a ocupar a cadeira de número 11 da Academia Brasileira de Letras (ABL), ressalta a beleza e os mistérios da bela flor do maracujá:

A flor do maracujá

Pelas rosas, pelos lírios,
Pelas abelhas, sinhá,
Pelas notas mais chorosas
Do canto do sabiá,
Pelo cálice de angústias
Da flor do maracujá!

Pelo jasmim, pelo goivo,
Pelo agreste manacá,
Pelas gotas do sereno
Nas folhas de gravatá,
Pela coroa de espinhos
Da flor do maracujá!

Pelas tranças da mãe-d’água
Que junto da fonte está,
Pelos colibris que brincam
Nas alvas plumas do ubá,
Pelos cravos desenhados
Na flor do maracujá!

Pelas azuis borboletas
Que descem do Panamá,
Pelos tesouros ocultos
Nas minas do Sincorá,
Pelas chagas roxeadas
Da flor do maracujá!

Pelo mar, pelo deserto,
Pelas montanhas, sinhá!
Pelas florestas imensas
Que falam de Jeová!
Pela lança ensanguentada
Da flor do maracujá!

Por tudo o que o céu revela!
Por tudo o que a terra dá
Eu te juro que minh’alma
De tua alma escrava está!…
Guarda contigo esse emblema
Da flor do maracujá!

Não se enojem teus ouvidos
De tantas rimas em — a —
Mas ouve meus juramentos,
Meus cantos ouve, sinhá!
Te peço pelos mistérios
Da flor do maracujá!


Publicado no livro Cantos meridionais (1869).

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