Por Carlos Franco
O meu galo, o Cocó como o trato desde que fugiu das redondezas e escolheu morar no meu quintal, adora comer flores. Vejo-as pela manhã e de tarde apenas os seus galhos e algumas folhas no chão. Curioso, por natureza, como todo jornalista, fui procurar entender esse hábito alimentar deste galo africano, que cuida do jardim como se fosse seu e que fertiliza e aduba organicamente as plantas com o seu ciscar e evacuar por onde passa.
A singela flor que se espalha por todos os cantos do quintal é originária da África Oriental e tem o imponente nome de Impatiens walleriana, uma impaciência que se explica por ser capaz de florir em qualquer lugar – canteiros, estradas, vasos, entre outros e resiste inclusive ao cultivo em apartamentos, desde que tome indiretamente raios de sol. Já o nome pomposo de Impatiens walleriana ganhou no Brasil sinônimos mais apropriados como maria-sem-vergonha, beijinho, beijo-turco, não-me-toques e beijo-de-frade.
A Impatiens walleriana, descobri pesquisando, tem seu nome relacionado à impaciência, devido a sua vitalidade para crescer e florir, se espalhando quando a bolsa que tem logo abaixo da flor se abre e solta sementes enquanto o seu sobrenome ilustre vem do botânico e pesquisador inglês Horace Waller (1833-1896). Ao atuar na África, o missionário Waller além de lutar contra a escravização de africanos tornando-se importante ativista antiescravagista coletou espécies botânicas como a maria-sem-vergonha, contribuindo, assim, para um importante inventário da flora e também da fauna, uma vez tendo contato com animais estranhos ao reino britânico. Pelo feito, Waller deu nome a flor.
Uma flor comestível ao alcance de todos
A maria-sem-vergonha ou beijinho, nomes mais populares da Impatiens walleriana, tem outra qualidade importante e que explica o hábito do galo, dono do meu quintal: é comestível, isto é, trata-se uma PANC (Planta Alimentícia Não-Convencional), termo criado pelo professor, pesquisador e botânico Valdely Ferreira Kinupp em sua tese de doutorado em fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em que classificou as plantas, seus frutos e suas flores que, inusitados para muitos, são comestíveis e existem em abundância no Brasil.
Como a popular maria-sem-vergonha é encontrada em diversas cores (rosa, vermelha, alaranjada, branca) enfeitam com perfeição os mais diferentes pratos. Outra vantagem: são perenes. Só tome cuidado para não levar ao prato as suas folhas e o talo, que não são comestíveis, mas apenas a flor como o faz o inteligente Cocó. Bom apetite.
Voltando ao galo, além de ciscar nas imediações da planta que pode chegar até 40 centímetros, ele parece sempre ficar mais feliz quando devora essas flores e canta bonito para saudar o dia e o anoitecer. Um despertador natural, ainda que por vezes desregulado, porque me acorda ainda de madrugada, deixando mais alegres os meus dias. Um bom companheiro no atual cenário de pandemia COVID-19.
Também tenho aproveitado para passar pela seção Cafezinho deste portal, onde sempre encontro livros e alguns eletrodomésticos que podem tornar a minha vida nesta eterna quarentena um pouco mais leve.